Egresso da USP, Thiago trouxe avanços significativos na qualificação de restrições de posto constante e condições de otimalidade de segunda ordem
Thiago Silveira estava no meio de um dia corrido no trabalho quando seu celular vibrou, trazendo uma mensagem inesperada. “Você ganhou”, dizia o texto do seu orientador de doutorado, acompanhado de um print. Por um momento, ele ficou confuso, sem entender o que aquilo significava. Mas então as notificações começaram a pipocar: amigos, colegas, todos compartilhando a mesma surpresa. Entre o silêncio do escritório e o turbilhão de mensagens, ele percebeu que sua tese, fruto de anos de esforço e momentos de incerteza, havia conquistado o Prêmio SBMAC 2024. “Foi uma sensação incrível!”, relembra o pesquisador.
A tese premiada, intitulada “Constant rank-type constraint qualifications and second-order optimality conditions”, explora novas abordagens para problemas de otimização, desenvolvendo condições de qualificação aplicáveis em contextos práticos. “A otimização está em todos os aspectos do nosso cotidiano. Usamos, por exemplo, quando queremos encontrar o caminho mais rápido no Waze. Mas, na prática teórica, encontrar a melhor solução para esses problemas não é trivial”, explica Thiago. “O que fizemos foi propor condições para garantir que os algoritmos utilizados nessas soluções atendam a critérios específicos de convergência, assegurando que encontramos a melhor resposta possível”.
A pesquisa, orientada pelo professor Gabriel Haeser, do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP, e defendida em 2023, quase foi interrompida em certo momento. “No início, foi complicado, principalmente porque, quando você chega à fronteira do conhecimento, é difícil pensar fora da caixa e encontrar algo que ainda não tenha sido proposto”, recorda Thiago. “Demorou bastante até conseguirmos resultados concretos”, completa.
Em um dos momentos mais difíceis da pesquisa, ele conta que elaborou uma proposta promissora, mas logo descobriu um contraexemplo que desmontou toda a ideia. “Foi um verdadeiro balde de água fria”, confessa. A solução veio após inúmeras reuniões semanais, realizadas inclusive durante a pandemia, entre 2020 e 2021, com Haeser, o coorientador Héctor Ramírez, da Universidade do Chile, e o professor Roberto Andreani, da Unicamp. “O que diferencia minha tese é a abordagem narrativa. Decidimos escrever uma tese que incorporasse os artigos publicados, mas de forma a contar uma história. Detalhamos as dificuldades enfrentadas e mostramos como elas nos levaram à solução. A ideia era que qualquer pessoa que lesse a tese pudesse entender, passo a passo, como chegamos à resposta final”, explica.
O resultado dessa pesquisa já rendeu cinco artigos, sendo quatro já publicados e um quinto aceito para publicação, demonstrando o impacto prático e teórico do trabalho de Thiago.
Trajetória de sucesso
Estabelecido em São Paulo, onde encontrou seu grande amor e se casou, Thiago Silveira nasceu em Manaus (AM), e desde cedo se encantou pelos números e desafios. Ele se formou em Matemática pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), na qual também concluiu o mestrado. Sua paixão pela área de otimização, no entanto, surgiu ainda na graduação, inspirada pelas aulas do professor Sandro Bitar, que continua sendo uma referência em sua trajetória acadêmica.
Durante a graduação, Thiago desenvolveu dois projetos de iniciação científica, ambos premiados como os melhores da UFAM em Matemática, o que despertou seu desejo de ir além. Além disso, atuou como monitor e, entre o mestrado e o doutorado, foi professor substituto na UFAM por dois anos. “Essa experiência confirmou minha vontade de seguir na carreira acadêmica”, conta.
A trajetória de Thiago na USP começou durante o XI Workshop Brasileiro de Otimização Contínua (BrazOpt), realizado na UFAM em 2016. Foi nesse evento no qual ele conheceu o professor Gabriel Haeser, que mais tarde se tornaria seu orientador de doutorado. “Na época, a UFAM não oferecia doutorado em Otimização, então decidi tentar a USP, e felizmente deu tudo certo”, afirma Thiago.
Durante o doutorado, ele teve a oportunidade de realizar um intercâmbio na Universidade Técnica de Dresden, na Alemanha, onde passou um ano e quatro meses. Essa experiência internacional foi crucial para sua formação, ampliando suas perspectivas tanto em pesquisa quanto em ensino.
Atualmente, Thiago atua como geofísico em uma empresa de análise de dados sísmicos no Rio de Janeiro, aplicando métodos matemáticos e físicos. “Nós geramos imagens da subsuperfície marinha com o objetivo de encontrar gás e petróleo, usando uma técnica chamada Full Waveform Inversion (FWI), que está em alta no setor. É uma aplicação direta da matemática e física para resolver problemas reais”, explica.
Apesar de sua atuação na indústria, Thiago mantém vivo o desejo de retornar à academia: “A ideia é seguir em busca de oportunidades, para continuar a carreira acadêmica que venho construindo há mais de 10 anos”.
Além de gostar muito de estudar, Thiago é apaixonado por futebol e gastronomia. Ele e sua esposa têm como hobby explorar novos restaurantes em São Paulo, aproveitando a rica diversidade culinária da cidade.