Professora da Unicamp fez parte recentemente da Comissão de Gênero e Diversidade da SBM/SBMAC e também obteve destaque em volume da NoMA
Sueli Costa se acostumou desde pequena a ser uma mulher sem delongas. Raramente tinha dúvidas e, quando acontecia, não tomava tanto tempo para mudar de ideia. Talvez estivesse escrito que a paulista encontraria sua felicidade numa área tão precisa quanto a de Ciências Exatas. Mas Matemática não era, de início, unânime perante os seus anseios.
Nascida em Rio Claro, no interior de São Paulo, Sueli pouco fala de sua infância. Já direciona sua história para a fase escolar, na qual frequentou colégios públicos no município situado a 170 quilômetros da capital. No ‘Colegial’ (hoje Ensino Médio), a paulista já gostava das matérias de Exatas, porém veio a incerteza do que fazer já que também tinha um certo apreço pelas teorias freudianas.
“No Ensino Médio, eu lia muito (Sigmund) Freud, gostava muito da parte de psicanálise. Psiquiatria era uma opção, mas, posteriormente, por gostar mais das disciplinas de Matemática, eu acabei migrando para o curso de Matemática”, conta Sueli.
Em 1967, a adolescente foi aprovada para a Unesp (que, na época, se dividia em Faculdades Isoladas de Filosofia, Ciências e Letras) e, engajada, emendou sua participação no Centro Acadêmico. Na época, Rio Claro estava formando suas primeiras turmas de ensino público superior e Sueli soube aproveitar suas oportunidades na graduação.
Após terminar seu primeiro ano, a paulista se sentiu atraída por um curso de verão aberto a alunos no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) na USP, em São Carlos, voltado para a linguagem computacional Fountain. Quem ministrava as aulas? Foi aí que se iniciou, indiretamente, a história de Sueli com a SBMAC.
“O professor Odelar Linhares, que foi um dos fundadores da SBMAC e primeiro presidente, ofereceu esse curso para estudantes de outras faculdades nas férias. Depois ele criou um grupo de iniciação científica, onde trabalhávamos junto com os alunos da Engenharia. Aquela experiência me marcou muito. É só mais um exemplo da influência dele na formação da SBMAC e do incremento da área de Matemática Aplicada e Computacional no estado de São Paulo e no Brasil”, destaca.
Durante a graduação, Sueli concentrou sua linha de pesquisa em áreas teóricas, como Lógica Matemática. Após completar os quatro anos, ela seguiu para São Carlos, onde iniciou o mestrado em 1971 na área de Geometria. Durante o período de sua especialização, a paulista começou a dar aulas da disciplina na Unicamp como professora auxiliar.
Pelo contato diário com a Unicamp, ela veio a conciliar a rotina como professora e aluna de doutorado em Matemática em 1978. Quatro anos mais tarde, Sueli completava mais uma modalidade de sua pós-graduação, novamente com foco em Geometria, e já tinha uma boa bagagem no Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC) da Unicamp.
E ela não se esquece da influência que o professor Odelar teve na sua formação superior. “Aquele curso de verão no ICMC me marcou demais, pois passei a ter uma visão mais ampla sobre o uso de recursos computacionais. Naquela época, a gente programava em cartões e usávamos ainda o computador IBM 1130 (risos). Para você ver, no meu doutorado, que foi na área de Geometria, anos depois, eu usava recursos computacionais para conjecturar o que seriam as possibilidades e depois demonstrá-las formalmente”, explica a matemática.
A atuação de Sueli em pesquisa e orientação concentra-se atualmente na subárea de Teoria da Informação e Códigos (códigos sobre grafos e reticulados, códigos esféricos, geometria da informação, códigos e reticulados em criptografia).
Sua trajetória na SBMAC data de, pelo menos, 30 anos. Foi praticamente na mesma época em que as áreas de Matemática Aplicada e Comunicações se interligam de uma forma tão marcante no segmento em território nacional. Para Sueli, a entidade reúne um papel fundamental no desenvolvimento de pesquisa e ensino científico por abranger uma elevada gama de profissionais de diversas áreas.
“A SBMAC tem o privilégio de trazer pessoas de diferentes subáreas, que hoje tem sido fundamental, por exemplo, na evolução da grande área de Ciências de Dados, que inclui Inteligência Artificial, Aprendizado de Máquina etc. O fato de ter essa perspectiva, de profissionais de distintas formações e sua interação, vejo a SBMAC no cerne do desenvolvimento de pesquisa e ensino no Brasil”, avalia a pesquisadora, que até hoje se mantém como professora titular da Unicamp.
Com participação mais efetiva, Sueli compôs a Comissão de Gênero e Diversidade da SBMAC em parceria com a SBM, em 2020. A paulista se juntou a mais pesquisadoras de todo o país com o objetivo de propor medidas efetivas para a promoção da diversidade em eventos na área de Matemática.
No âmbito teórico, a professora do IMECC-Unicamp deu sua contribuição ao ser destaque, em 2006, do Volume 21 das Notas de Matemática Aplicada (NoMA), destinado a uma obra sobre Teoria de Códigos. Fizeram parte do trabalho também o ex-presidente da SBMAC e professor da Unicamp, Carille Lavor, Marcelo Muniz Silva Alves, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e Rogério Monteiro de Siqueira.
Para Sueli, a evolução e a influência da SBMAC no cenário científico internacional ao longo das décadas são notórias. E tudo isso deixa sua trajetória ainda mais enraizada à Sociedade.
“Eu faço parte da história da SBMAC, mas, na verdade, é a SBMAC que faz parte da minha história. Toda a minha trajetória profissional tem muito a ver com ela, seus fundadores e o espírito que está entrelaçado nisso”, encerra.