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Ciência brasileira em destaque: pesquisadora de Exatas conquista prêmio na França

Paulista Bianca Marin Moreno venceu o Prêmio L’Oréal França 2025 por sua pesquisa em inteligência artificial e energia

Bianca Marin Moreno venceu Prêmio L’Oréal França 2025 por suas pesquisas em inteligência artificial e no setor energético | Foto: Arquivo Pessoal 

O reconhecimento internacional da ciência brasileira ganhou mais um capítulo em 2025. A matemática Bianca Marin Moreno foi contemplada com o Prêmio L’Oréal França para Mulheres e a Ciência, uma das mais importantes distinções concedidas a jovens pesquisadoras que se destacam por suas contribuições científicas. 

Criada pela Fundação L’Oréal em parceria com a Unesco, a premiação tem como missão valorizar o papel das mulheres na ciência e ampliar sua representatividade em áreas em que ainda são minoria, como a matemática e a inteligência artificial.

Natural de São Bernardo do Campo e criada em Atibaia, também no estado de São Paulo, Bianca vive na França desde 2019 e realiza doutorado em Aprendizado de Máquina no INRIA (Instituto Nacional de Pesquisa em Tecnologia da França, na tradução) THOTH, em parceria com a EDF R&D e o Laboratório FiME (Financiamento do Mercado de Energia).

Sua pesquisa explora a interseção entre aprendizado por reforço e algoritmos de aprendizagem online, aplicada ao contexto dos chamados jogos de campo médio, com impacto direto em problemas de gestão energética.

Um reconhecimento histórico

Ao receber a notícia da premiação, Bianca confessou que precisou de alguns segundos para acreditar. “No começo, achei que era engano, mas depois fiquei muito feliz. É um reconhecimento incrível da minha pesquisa e do meu percurso acadêmico. Se me dissessem no começo da graduação que isso seria eu em 10 anos, eu jamais acreditaria”, conta a pesquisadora de 27 anos.

Para ela, o prêmio representa não apenas a validação de sua trajetória, mas também uma responsabilidade. “Como embaixadora da Fundação L’Oréal-Unesco para as Mulheres e a Ciência, quero participar ativamente da missão de promover maior inclusão das mulheres na ciência, em especial na área de exatas, onde ainda somos minoria. Esse é um desafio fundamental para a igualdade de gênero”, afirma Bianca.

Da Unicamp à Polytechnique: uma trajetória internacional

A paulista iniciou sua formação acadêmica no Bacharelado em Matemática com ênfase em Física-Matemática na Unicamp, mas interrompeu o curso no terceiro ano para ingressar na École Polytechnique, a mais prestigiada ‘Grande École’ de engenharia da França. Ali concluiu a formação equivalente ao bacharelado e mestrado em Matemática Aplicada, além de um ano de especialização na École Normale Supérieure em Matemática Aplicada com ênfase em aprendizado de máquina.

Bianca reside na França desde 2019 e atualmente é doutoranda no INRIA THOTH, em Paris | Foto: Arquivo Pessoal

A cientista obteve ainda o título de Engenheira Polytechnicien, que reúne as duas formações. “Na Unicamp descobri meu interesse pela pesquisa em matemática. Quando soube da oportunidade de prestar o concurso para a École Polytechnique, por onde passaram nomes como Poincaré, Laplace, Fourier e Lagrange, decidi tentar. Quando vi que fui aprovada, não tinha como recusar”, lembra.

Pesquisa de fronteira em energia e inteligência artificial

Os jogos de campo médio estudados por Bianca modelam situações em que uma população infinita de agentes interage, permitindo resolver problemas de decisão em larga escala a partir do comportamento médio da coletividade. Essa abordagem tem aplicações práticas diretas na transição energética, como na integração de fontes renováveis à rede elétrica.

“Para equilibrar produção e demanda, usos de eletricidade – como a recarga de veículos elétricos – podem ser ajustados sem recorrer a combustíveis fósseis. Os algoritmos de campo médio permitem resolver problemas de controle com muitos agentes, mas os métodos existentes só funcionam em ambientes estacionários. Minha pesquisa busca desenvolver algoritmos capazes de se adaptar a incertezas e evoluções temporais, como mudanças climáticas ou choques de demanda”, explica.

Entre os próximos passos, Bianca pretende generalizar seus métodos para casos mais complexos, com atenção especial à confidencialidade dos agentes, de modo que as soluções possam ser aplicadas em larga escala sem comprometer dados sensíveis.

Desafios e conquistas pessoais

Bianca também relembra os desafios enfrentados ao se mudar para a França. “A saudade da família é a parte mais difícil até hoje. Também enfrentei a barreira da língua, já que cheguei sem falar francês. Tivemos três meses intensivos de curso e, logo em seguida, começamos a acompanhar aulas de Exatas em francês. O frio também foi complicado, eu nunca tinha visto neve”, recorda, rindo.

Apesar das dificuldades, a pesquisadora construiu uma ‘segunda família’ de amigos em Paris e segue mantendo o vínculo com o Brasil. “Quero manter a porta aberta para colaborações com cientistas brasileiros e para apresentar minha pesquisa em conferências no país”, afirma.

Inspirar novas gerações

Questionada sobre seu papel como referência para outras jovens pesquisadoras, Bianca não esconde o desejo de inspirar. “A matemática ainda é vista como masculina, o que gera autocensura em muitas jovens. Quero ajudar a transformar essa percepção e mostrar que as carreiras de exatas podem ser acessíveis e atraentes. Fazer ciência não é questão de gênero, mas de curiosidade e brilho nos olhos para aprender”, defende.

“Fazer ciência não é questão de gênero, mas de curiosidade e brilho nos olhos para aprender”, defende Bianca | Foto: Arquivo Pessoal

Ela reforça ainda a importância do Prêmio L’Oréal como vitrine para equilibrar a presença feminina na ciência. “Excluir as mulheres significa se privar de metade dos talentos disponíveis. A participação feminina enriquece a pesquisa e garante que os avanços beneficiem toda a sociedade”, opina a matemática.

Uma mensagem às jovens brasileiras

Ao final, Bianca deixa um recado direto às futuras cientistas: “Se você não tem medo de perguntas que ainda não tem respostas, a ciência sempre terá um lugar para você. Não hesite em pedir ajuda a outras pesquisadoras se sentir que não pertence a esse meio. A maioria de nós já passou por isso e estamos sempre dispostas a apoiar.”

Reconhecimento da comunidade matemática

A Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) e a Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC) parabenizam Bianca Marin Moreno pela conquista do Prêmio L’Oréal França 2025. As duas Sociedades ressaltam que sua trajetória acadêmica e sua pesquisa de fronteira são motivo de orgulho para a matemática brasileira e inspiração para jovens cientistas em todo o país.

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