As últimas avaliações responsáveis por revelar o desempenho de estudantes do Ensino Médio têm colocado a educação brasileira em um cenário crítico. A falta de qualidade, empenho do setor, mecanismos eficientes voltados para a aprendizagem do estudante e políticas públicas para a formação de futuros profissionais e cidadãos se tornaram os atuais desafios do país.
As Novas Diretrizes para o Ensino Médio estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) e aprovadas pelo colegiado em 4 de maio de 2011, definem uma base comum (linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas), e uma base diversificada. No entanto, o Ministério da Educação (MEC) propôs recentemente a integração das diversas disciplinas da área comum, justificando essa proposta pela necessidade de modernização com maior integração entre os diversos conhecimentos. Essa iniciativa do MEC provocou preocupações entre as sociedades científicas e entidades representativas da área educacional.
Para a presidente da SBPC, Helena Nader, é preciso lembrar que um terço da população brasileira não consegue utilizar o conhecimento da língua para se inserir nas práticas sociais e somente 26% da população adulta do país é capaz de ler e interpretar textos, o que representa um cenário deficiente para a educação.
“Externo nossa preocupação com a notícia de que o MEC está preparando editais para a produção de livros integrados para o Ensino Médio. Ninguém é contra o conhecimento integrado, nenhuma sociedade científica se posicionou contra o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), que faz uma avaliação integrada do conhecimento adquirido pelo estudante. Precisamos avaliar com muita cautela as mudanças, pois não temos professores formados para atender à ‘nova proposta’ para o Ensino Médio com a integração das áreas”, disse Nader.
Diante do desafio de colocar o país em um patamar mais elevado no ranking da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico(OCDE), a SBPC e Sociedades Científicas se reuniram com o presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), prof. dr. José Fernandes Lima, na última quarta-feira, dia 10, em Brasília, para discutir o tema.
Na reunião, o presidente do CNE, que foi o relator das Novas Diretrizes para o Ensino Médio, afirmou que as diretrizes aprovadas mantêm o ensino das disciplinas. Lembrou ainda que os cursos de licenciatura não estão preparados para formar esse novo profissional que o MEC deseja para esse novo cenário do ensino médio que está propondo. “A organização por áreas não significa acabar com as disciplinas”, comentou Fernandes Lima.
Para as sociedades e entidades do setor, a fragmentação do ensino é nefasta para todos. O conhecimento é integrado, mas o Brasil não está preparado para atender à mudança proposta pelo MEC. Os professores formadores, os já formados e os formandos nas diferentes licenciaturas devem ser trazidos para o debate, aproximando assim a Universidade da escola básica.
"Não há dúvida de que é preciso começar a pensar e implementar a interdisciplinaridade, mas a mudança das diretrizes disciplinares não pode ser veloz e o sistema não permite saltos. Sabemos que a formação dos professores é disciplinar, fragmentada, e especializada. Mudar isso exigirá de 10 a 20 anos: novos currículos universitários, novos critérios de avaliação e de valores acadêmico-disciplinares. Será necessária muita discussão e boa disposição na comunidade científico-acadêmico-educacional para encontrar consenso e bom senso para promover essa integração.", afirmou a profa. dra. Lisbeth Cordani, do Grupo de Trabalho de Educação da SBPC.
Outro ponto levantado no encontro foi a necessidade de se utilizar recursos tecnológicos em sala de aula. “As aulas têm que ser mais dinâmicas e interessantes. Os recursos tecnológicos devem ser utilizados para atrair a atenção e o interesse dos alunos. É necessário também período integral para ter uma boa formação, mas o Brasil não tem condições hoje de atender a esta demanda. A integração entre os professores que estão em sala de aula é fundamental para que possam trabalhar, minimamente, de forma interdisciplinar. E isso deve ser considerado por aqueles que estão na Universidade envolvidos na formação de professores”, disse Tânia Schmitt, da SBMAC.
A Abrapec enviou carta ao Ministério da Educação ressaltando a importância de que as propostas de modificações reconheçam a necessidade de mudanças concomitantes no sistema educacional como um todo, principalmente daquelas referentes à melhoria nas condições de trabalho do professor em exercício, da remuneração dos professores e da estrutura física das escolas. Este posicionamento foi reiterado pela dra. Dalila Oliveira, da Anped, e pelos demais representantes das sociedades científicas presentes.
A Sociedade Brasileira de Química também encaminhou ao ministro Aloizio Mercadante, documento solicitando informações sobre qual estudo o MEC se baseou para elaborar a proposta de reforma do currículo do ensino médio no País. “Uma mudança desta tem que ser conduzida com base em sólidos estudos, pois afetará muitos professores e alunos, e deve ser refletida e discutida com a sociedade”, disse o presidente Vitor Francisco Ferreira.
As sociedades científicas concluíram que a reforma como se apresenta é intempestiva e que o MEC deveria propor a formação de grupos de trabalho com diferentes atores para estudar a proposta sugerida, considerando a sua viabilidade e potencial de implementação.
Participaram do encontro as seguintes entidades: Associação Brasileira de Antropologia (ABA); Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências (ABRAPEC); Associação Nacional de História (ANPUH); Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE); Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped); Sociedade Botânica do Brasil (SBB); Sociedade Brasileira de Biologia (SBB); Sociedade Brasileira de Biologia Celular (SBBC); Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (SBBq); Sociedade Brasileira de Educação Matemática (SBEM); Sociedade Brasileira de Física (SBF); Sociedade Brasileira de Genética (SBG); Sociedade Brasileira de Matemática (SBM); Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC) e Sociedade Brasileira de Química (SBq).
Ascom SBPC