No dia 12 deste mês de maio faleceu o Professor Ubiratan D’Ambrósio, aos 89 anos. Se, por um lado é uma perda para nosso universo de Matemática, Matemática Aplicada e Educação Matemática no mundo todo, por outro lado, temos dele um precioso legado – e um motivador desafio.
Depois de seu doutorado na USP, e de um trabalho por um bom tempo nos Estados Unidos, como professor e diretor, Ubiratan D’Ambrósio veio ser, a convite do então Reitor da UNICAMP, Zeferino Vaz, diretor do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC) da UNICAMP. Depois de alguns anos como diretor, Ubiratan D’Ambrósio veio a ser pró-reitor de Desenvolvimento Universitário da UNICAMP.
Sua atuação levou-o a um reconhecimento internacional marcante, sobretudo no campo da Educação Matemática: ele recebeu em 2001 da Comissão Internacional de História da Matemática o Prêmio Kenneth May em função de sua atuação para a História da Matemática e também recebeu em 2005 a medalha Felix Klein, pela Comissão Internacional de Instrução Matemática, por conta de suas contribuições no campo da educação matemática.
Foi homenageado muitas vezes em tantos países e seus trabalhos têm sido catalizadores de muitas pesquisas e, com isso, muitos avanços matemáticos, numa revisão da História da Matemática, com a criação da Etnomatemática.
Caracterizou-o, mais do que um apoio ao desenvolvimento matemático sobretudo no IMECC, um verdadeiro estímulo às pesquisas e ao trabalho em Matemática e Matemática Aplicada. Nessa atuação trouxe brasileiros que terminavam seus doutorados em outros países, bem como pesquisadores jovens de muitas nacionalidades – que se tornaram, em sua maioria, cidadãos brasileiros.
Foram dele iniciativas precursoras de Ensino a Distância em nível de pós-graduação (em conjunto com a CAPES) e no nível da graduação com uma disciplina usando recursos de TV e de computadores – isto ainda na década de 70, bem como a criação de um mestrado transdisciplinar (com ênfase em Matemática Aplicada), com apoio da Organização dos Estados Americanos.
Sua atuação internacional foi marcante, com influências em novos enfoques de Educação Matemática, e sua atenção com países em desenvolvimento foi intensa, por exemplo, em América Latina e região do Caribe fez parte dos fundadores da IACME-CIAEM (Comitê Interamericano de Educação Matemática) ao lado de matemáticos como Marshall Stone, Luís Santaló, sendo seu 3º presidente, quando exerceu papel decisivo para consolidar as novas tendências da Educação Matemática. O 50º. aniversário da CIAEM foi realizado em Recife Brasil, em 2011. Assim também foi marcante sua contribuição ao desenvolvimento da Matemática na África, com projeto apoiado pela ONU-UNESCO, implantando curso de doutorado em Matemática na República do Mali, nos anos 70.
Em termos de desafios houve um evento internacional em que, antes de sua apresentação ele colocou na tela um mapa do mundo com o Sul apontando para o norte e, sem olhar, começou a arrumar seus papéis. Aos muitos avisos de que o mapa estava “de cabeça para baixo”, ele demorou e viu o mapa no quadro. E respondeu “será que não é a nossa cabeça que está de cabeça para baixo? Porque é que este mapa não nos serve – culturalmente?”.
Mais recentemente ele deixou um texto abordando quatro aspectos da Paz e do papel da Matemática na promoção da Justiça e da Paz Social: uma Matemática como instrumento de transformação do mundo e da História.
A SBMAC e a SBM prestam sua homenagem ao Professor Ubiratan D’Ambrósio. Ao longo de sua carreira acadêmica inspirou muitos estudantes por seu amor à matemática. Era uma pessoa notável e os seus ensinamentos ficarão para sempre em nossas memórias. Em nome de nossa comunidade, mandamos os nossos sentimentos à família e amigos.