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José Mario Martínez: espanhol, argentino e brasileiro

Espanha, Argentina, Brasil. A jornada de José Mario Martínez traz consigo três países, dois continentes e uma só paixão: a matemática.

Natural da Espanha, mas criado na Argentina, José Mario Martínez estudou matemática na Universidade de Buenos Aires (UBA) e desembarcou no Brasil em 1976, após o golpe de Estado realizado pelos militares argentinos. Terminou seu doutorado no Rio de Janeiro e, em 1978, foi contratado para ser professor na Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp.

Martínez sempre esteve atrelado à área de otimização matemática, tanto na área mais pura quanto na parte de aplicação. Segundo o próprio Martínez: “Existe uma matemática aplicada e uma matemática aplicada aplicada. Na primeira, trabalha-se com otimização, análise numérica, estatísticas; na segunda, é quando repetitivamente se aplica a matemática a outras técnicas e áreas da ciência”.

Na maior parte de sua carreira, esteve ligado ao primeiro modelo – explicado por ele próprio – da matemática aplicada. E assim, esteve presente na história da Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC) desde o início. Em seu primeiro ano na Unicamp, foi realizado, em Belo Horizonte, o I Simpósio de Cálculo Numérico, evento que unia docentes da disciplina de Cálculo Numérico de diversas universidades.

“Foi lá onde surgiu a ideia de criar uma sociedade de matemática aplicada. Eu era muito jovem naquela época, provavelmente já era uma ideia que as pessoas mais maduras possuíam, mas foi neste simpósio onde se decidiu oficialmente formar essa sociedade e chamá-la de SBMAC. Houve, inclusive, uma discussão sobre a sigla MAC, pois poderia ser mal vista em virtude da existência de um movimento fascista que se chamava ‘Movimento Anti-Comunista’, mas obviamente passamos por cima disso”, relembra em tom bem humorado.

O surgimento da SBMAC

Martínez embarcou de São Paulo para Minas Gerais numa divertida viagem de ônibus. O Simpósio, sediado na capital mineira, hospedou estudantes como ele no mais tradicional estádio da cidade: o Mineirão. Como hóspede no Gigante da Pampulha, o que mais chamou sua atenção não foi a matemática, mas sim uma inusitada adversidade.

“Era uma hospedagem simples, com homens separados de mulheres, como era o costume da época. O que eu mais me lembro daqueles dias é da quantidade de pernilongos que havia no alojamento. Era a maior quantidade que já vi na minha vida! No primeiro dia, fui picado; no segundo, coloquei um espiral perto da minha cama; no terceiro, coloquei dez espirais ao redor da minha cama porque, se não, seria devorado por eles. Essa é minha maior lembrança deste congresso”, conta enquanto ri.

Diante desse momento único, ele trata da história com carinho e apreço daquela que foi. além de muito boa e divertida, a sua primeira oportunidade de estar em um congresso com tamanha inserção popular, como ele mesmo explica.

Naquela época, São Carlos ainda estava longe de ser o polo científico e matemático que conhecemos hoje em dia. Presidida pelo professor Odelar Leite Linhares, a SBMAC dava seus primeiros passos. No Rio de Janeiro, surgia o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), um outro grupo forte dentro da matemática aplicada liderado por Marco Antonio Raupp.

Dentro deste cenário, a SBMAC crescia com uma característica: a inclusão. “A Sociedade sempre teve essa característica mais inclusiva. Fazer grandes congressos, convocar diversos estudantes, promover participações científicas, mestrados, tudo isso com uma grande abertura. Não é que éramos melhores que outras, apenas atendíamos necessidades que existiam, sem tanto conservadorismo”, reitera.

Martínez foi o segundo vice-presidente da SBMAC no mandato de 1981 a 1983, quando a Sociedade foi dirigida por Raupp, e fez parte do Conselho da entidade em nove oportunidades – incluindo a função atual, que vai até 2025.

Entre tantas vivências, a matemática permanece na rotina e na memória do bem-humorado José Mario Martínez, que viveu e é parte da história da SBMAC.

Confira o segundo episódio da série Memória SBMAC:

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