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Rubens Sampaio: de Sergipe para a SBMAC

Sergipano de nascença, Rubens Sampaio se formou em Química pela Escola de Química, em Aracaju, capital do seu estado. Naquela época, a Universidade Federal de Sergipe (UFS) ainda não era constituída da forma que é conhecida nos dias atuais, e por isso a denominação diferente do seu local de formação.

Desde novo, sempre foi bom aluno. No vestibular, foi aprovado em primeiro lugar, e a opção pela química se deu por ser a única alternativa que agradava. Por não haver a constituição da Universidade como um todo, o que existiam eram faculdades. Havia a faculdade de Medicina, de Química, Medicina, Contabilidade, Economia, Ciências Sociais. De todas essas, a Química foi a mais interessante porque já gostava de Matemática e o conteúdo do curso escolhido por ele era o que mais o deixaria próximo da sua paixão.

Com alto interesse em permanecer aprendendo e evoluindo, Rubens migrou para o Rio de Janeiro em busca de aprofundar sua formação e seu conhecimento. E, assim como desbravou o início acadêmico em seu estado, em terras fluminenses não foi diferente. Ele foi para a Coppe, o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para fazer seu mestrado em Engenharia Química.

Fundada em 1963, a Coppe tinha apenas seis anos de existência quando ele por lá desembarcou. “Na época, praticamente não existiam matemáticos, independente de Matemática Pura ou Aplicada. Então, me ofereceram e eu comecei a dar aula de cálculo no Instituto de Matemática da UFRJ porque precisava de dinheiro. A Coppe precisava de pessoas que se interessassem pela intersecção entre Engenharia e Matemática, e, em 1970, antes de defender o meu mestrado, eu fui contratado pela Coppe”, relembra.

O conhecimento matemático foi evoluindo por esforço próprio. Como não tinha uma graduação específica da área, passou a fazer cursos dentro do Instituto de Matemática da UFRJ para aprimorar suas habilidades. Um envolvimento quase que acidental que, pouco depois, o fez ser selecionado para fazer doutorado em Matemática. Como ele mesmo ressalta, a Matemática Aplicada sequer existia na época, então a sua graduação não possuía nenhum tipo de especificidade. Rubens foi para a cidade de Pittsburgh, no estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos, para estudar na Carnegie Mellon University.

Em 1980, saiu da Coppe e se transferiu para a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Por lá, ficou mais fácil participar das atividades do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC). No Laboratório, muitas das coisas que eram realizadas envolviam uma determinada sociedade que estava dando seus primeiros passos: a Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC).

Trajetória na SBMAC

Seguindo seu destino de participar dos primórdios das instituições por onde passou, Sampaio foi membro da primeira diretoria da Sociedade. “Fui responsável pelo Boletim. Eu fiz o prefácio do primeiro que foi publicado. E assim começou minha atividade na SBMAC. Participei em vários cargos de diversas diretorias, fui Vice-Presidente, Presidente durante dois mandatos, conselheiro, organizei pelo menos quatro CNMACs, vários ERMACs. As Notas de Matemática Aplicada foram criadas na minha diretoria e fui um dos primeiros editores delas”, conta com orgulho.

Essa grande relação com SBMAC, repleta de histórias e com uma trajetória de protagonismo vasta, obviamente criou uma relação de muito amor e carinho. “Eu vou começar com uma palavra que é gratidão, porque eu acho que a SBMAC foi muito importante para a minha formação. Interagir com estudantes, escrever livros, participar de congressos, tudo isso fez com que eu visse que minha contribuição ia muito além de uma contribuição na universidade”, afirma.

E a razão pela qual ele optou por participar tão ativamente da SBMAC realmente mostra como o pesquisador sempre visou perpassar os campos acadêmicos. Para ele, contribuir para instituições como a UFRJ e a PUC era sim muito importante, mas era, de certa forma, uma atividade limitada. Na Sociedade, era diferente. Rubens sentia que, ao contribuir com a SBMAC, ele estava colaborando com a Matemática do Brasil e do mundo. Um dos seus amores era sentir que estava trabalhando de forma cooperativa com a ciência e os cientistas.

Num cenário onde não se sabia ao certo o que era a Matemática Aplicada, ele foi linha de frente. O tão falado confronto entre a Matemática Aplicada e a Matemática Pura. Na realidade, a parte aplicada não era sequer entendida, sendo tratada como algo inferior, “de segunda categoria”, como ele mesmo define. Era como se existissem “os bons e os menos bons”.

Ensinamentos da SBMAC

Nesse contexto, a Sociedade foi fundamental para explicar para várias gerações o que era de fato a Matemática. Foi ensinado como deveriam ser apresentados trabalhos, como deveria ser feita a interação com os alunos, o nível médio adequado para as pesquisas. Tudo.

“Se você observar o que a SBMAC fez, ela passou por todos os pontos possíveis e necessários. Ela estimulou muito os alunos, basta ver a quantidade de prêmios que possuímos. A SBMAC aumentou muito o nível médio da Matemática, conseguindo atrair pessoas de todos os tipos. Não existem os bons e os ruins, todos são bem-vindos. Foi um trabalho excepcional, porque criou um nível de consciência Brasil afora de que existe gente boa e gente ruim em tudo. Independente de pura ou aplicada. Fora o grande sucesso e consolidação dos nossos congressos”, celebra.

Oriundo da Química, mas apaixonado pela Matemática, o membro honorário da SBMAC considera que a Sociedade ensinou a importância do trabalho em equipe. Esse trabalho unificado proporciona o crescimento coletivo, e o resultado dele se traduz não apenas na vida pessoal de cada participante, mas também no que se tornou a própria Sociedade. O sucesso das iniciativas proporcionadas pela entidade são o produto final de um esforço feito por diversas cabeças.

“No início, a SBMAC se suportava em instituições. O LNCC e o INPE. Uma das coisas que aconteceu desde a minha diretoria é que agora a SBMAC é independente. Na realidade, ela ficou tão bem sucedida que agora ela é supra instituição. Ela fica por cima das instituições”, analisa.

Presente em tantos contextos e responsável por inúmeros avanços, Rubens é a prova viva de como os destinos da vida são cruzados e entrelaçados das formas mais repentinas. Para ele, a matemática foi, de certa forma, um acidente. Um acidente feliz. E a história da Sociedade com certeza é mais feliz ainda com a influência dele.

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