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Poti: quase biólogo, totalmente matemático

Conheça a história de um dos grandes nomes da SBMAC

A vida nem sempre nos leva para os caminhos que pensamos. Mesmo assim, de alguma forma, sempre chegamos aonde precisamos. Foi mais ou menos assim que foi construída parte da vida de José Alberto Cuminato, o Poti.

Nascido e criado em Potirendaba – e é daí que surge o apelido -, cidade satélite de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, ele não queria ser matemático. Seu desejo era a biologia, pois, no colégio, havia um professor extremamente didático com sua turma, que passava prazer em estudar a área. Entretanto, uma sementinha já estava plantada: ele dava aula particular de matemática para os seus amigos.

“Quando chegou no terceiro colegial, fui estudar em Rio Preto. Lá, encontrei a professora Aldenice Brito Pereira, que naquela época fazia mestrado em São Carlos. Ela começou a falar que o curso de Matemática era interessante e nos incentivou a prestar o vestibular para ele em Rio Preto. Naquela época, para se inscrever, você tinha que escolher a área, e, como eu não sabia que fazendo biologia eu também poderia fazer mestrado e afins, optei pela matemática, porque me parecia valer mais um passarinho na mão do que dois voando.”

No começo, sofreu bastante com a dificuldade do curso, e a realidade da vida universitária o afetou diretamente. Era um mundo árduo e desconhecido. Porém, passado o choque do início e superadas as dificuldades, as coisas começaram a andar. Neste ponto, a parte complicada não era mais a matemática, mas sim o fato de morar em Potirendaba e ter que ir e voltar de ônibus todos os dias para Rio Preto em meio a um curso integral. Gastos com transporte em uma estrada ruim, com alimentação e diversos outros obstáculos. Mas nenhum deles impediu que Poti concluísse o curso em quatro anos.

Sua afeição sempre foi por uma matemática que trouxesse resultados, aquela que ele conseguisse ver sendo aplicada na prática. Por isso, o grande desejo de ir para o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) para fazer seu mestrado em estatística. Aqui, a vida de Poti mais uma vez foi para um curso diferente do que ele desejava a princípio. Apesar da grande vontade de ir ao IMPA, lhe foi garantida uma vaga no mestrado no Instituto De Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, e, embora tenha sido aceito no IMPA posteriormente, cumpriu sua palavra e foi para São Carlos.

Anos depois, em 1980, surge uma vaga na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Era final de ano e José, como lhe era de costume, estava em sua cidade natal. “Eles precisavam contratar logo, mas eu não tinha telefone naquela época. A USP, então, ligou para um bar de Potirendaba e pediu para que me avisassem. Só que o pessoal do bar nunca me avisou nada, e quando voltei o pessoal achava que eu não tinha dado bola pra proposta, o que não era verdade, porque o que eu mais precisava naquela época era de um emprego”, relembra.

Em meio a esse desentendimento, surge uma vaga na Universidade de São Paulo (USP). Em 26 de fevereiro de 1980, Cuminato é contratado pela USP. Lá, criou conexões e descobriu que poderia fazer doutorado no exterior – naquela época, segundo ele, não era tão difícil conseguir uma bolsa fora do país. E assim o fez: foi para a Universidade de Oxford.

“Foi um desastre. É muito difícil. Um caipira de Potirendaba mudar para Oxford é bem difícil. Mas, se você quer dar um passo na vida, tem que aguentar. Consegui terminar o doutorado lá e voltei para São Carlos”.

Poti e a SBMAC

A relação entre Poti e a Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC) é extremamente longeva. Desde a fundação da SBMAC, ele praticamente só não foi para os congressos da Sociedade durante o tempo em que esteve no exterior. De resto, teve o seu dia-a-dia sempre atrelado a ela. Foi membro do Conselho, participou de algumas diretorias e ainda presidiu-a durante dois mandatos. E nesse cargo ele foi crucial.

Apesar de incorporada em São Carlos com sua sede política, a SBMAC e sua secretaria acompanhavam onde o presidente atuante estivesse. Isso trazia prejuízos para a Sociedade, pois documentos e livros eram perdidos nos caminhos. Poti, por sua vez, enxergava que era necessária uma sede física. Através do dinheiro arrecadado ao longo dos anos nos congressos e afins, a SBMAC adquiriu sua sede também na cidade de São Carlos.

Outro ponto de mudança durante os mandatos de Cuminato foi a forma de produção das revistas da SBMAC. Eram gastos cerca de 40 mil dólares para imprimir cerca de um ano de exemplares da revista. “Em algum momento, a SBMAC passou a imprimir sua revista com uma editora brasileira. Depois, chegamos ao formato que estamos até hoje, sendo produzida através da Springer. Isso foi uma grande jogada, porque, ao invés de pagar para produzir a revista, começamos a receber royalties dela. Acho que tanto a fixação da sede quanto as mudanças da revista são marcas dos meus mandatos”

Para ele, a SBMAC é uma Sociedade de sucesso. “Ela é uma Sociedade toda redondinha, tudo dentro da lei. Poucas são tão bem reguladas como a nossa. Pudemos expandir no ponto que mais interessa, que é o de prestação de serviços para a sociedade. Tivemos várias revistas, mesmo com a dificuldade de produzir algo desse tipo, já que não dá lucro e no início tivemos apenas prejuízos. Isso só foi possível pelo respaldo financeiro que a SBMAC conseguiu construir ao longo do tempo. Tivemos forma de bancar as nossas aventuras até que elas se tornassem autofinanciáveis e com reputação suficiente para encontrar pessoas dispostas a ajudar”, comemora.

O futuro

Poti enxerga que o futuro da Sociedade é a ligação com a indústria. Utilizar as ferramentas matemáticas para fomentar o desenvolvimento econômico. O mundo muda, as coisas evoluem e a SBMAC, segundo ele, pode promover uma maior alteração entre a academia e a indústria. “Nossos diretores estão trabalhando nisso. Estamos participando de mais congressos dentro desse ramo. Esse é o caminho que vejo para onde a SBMAC deveria caminhar. Existe competição com outras iniciativas, mas é algo ainda pouco preenchido por outras sociedades”, vislumbra.

Entre passado, presente e futuro, Poti prega também a permanência das iniciativas da Sociedade que já dão certo, que são patrimônios representativos. Estabelecida e bem sucedida há décadas, a SBMAC é contemplada com perfis como o de Poti, que fazem dela a detentora de uma história de sucesso.

Confira o sétimo episódio da série Memória SBMAC:

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