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Comitê reforça luta pelo feminismo e expõe desafios da SBMAC no Dia Internacional da Mulher na Matemática

Criado em 2018, Comitê das Mulheres vem galgando espaços de referência na área e planeja ampliar influência das pesquisadoras no país e dentro do continente

É inegável que a mulher, após séculos enraizada como figura submissa, passou a performar papéis de protagonismo na sociedade. Com o tempo, a luta feminina vem ganhando mais espaço nas estruturas da comunidade. Assim, as profissionais estão encarregadas de funções de destaque em empresas e departamentos muito mais do que há décadas. Na Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC), a realidade não é diferente, mas o caminho ainda é longo.

Neste 12 de maio, é comemorado o Dia Internacional das Mulheres na Matemática e a Sociedade observa e comprova os frutos de um maior empoderamento feminino dia após dia. Desde 2018, as pesquisadoras e professoras da área formam o Comitê das Mulheres da SBMAC com o intuito de promover a divulgação de trabalhos e pesquisas, além de contribuir para a maior visibilidade do trabalho das profissionais em matemática.

Em cinco anos de participações, o Comitê conseguiu promover a atuação de mulheres em dezenas de eventos. Muitas vezes, o grupo foi responsável por indicar os melhores especialistas para conferências, simpósios, palestras e na organização de rodas de debate sobre o tema. O Congresso Nacional de Matemática Aplicada e Computacional (CNMAC) é um bom exemplo disso.

Cláudia Mazza, membra do Comitê, acredita que o principal desafio do grupo foi conseguir passar o real propósito da união das mulheres das SBMAC, inclusive para a própria ala feminina. “No início, algumas pessoas tiveram dificuldades para entender a importância do Comitê e encararam sua criação como puro ato político. É lógico que tem um aspecto político importante, mas a real necessidade de dar visibilidade ao trabalho feminino parecia algo que muitos não se davam conta, inclusive entre as mulheres mesmo. Achavam que era só uma questão de bandeira”, lembra.

Sua colega no Comitê, Dayse Pastore, enxerga que as mulheres da SBMAC ainda enfrentam desafios para serem reconhecidas na área e deixa uma reflexão: o que mais a ala feminina precisa provar para alcançar voos maiores na área?

“A maior dificuldade é a de ter nosso trabalho acadêmico reconhecido, de fato. Sinto que sempre tivemos apoio, mas funcionamos como um braço operacional. O Comitê é muito útil, propõe atividades, movimenta a mídia, promove integração e ajuda nas demandas. Temos espaços pelo trabalho. Mas me pergunto, se realmente temos o espaço intelectual que nos pertence”, opina.

Em todos os CNMACs, desde 2019, o Comitê das Mulheres da SBMAC indicou conferencistas e minissimpósios, destacando:

2019
Conferencista indicada: Celina Miraglia Herrera de Figueiredo (UFRJ)

2021
Conferencista indicada: Maristela Oliveira dos Santos (USP)

2022
Conferencista indicada: Sônia Maria Gomes (Unicamp)

2023
Conferencista indicada: María de Lourdes Esteva Peralta (UNAM)

Nem mesmo a pandemia de COVID-19, que restringiu a realização de eventos presenciais, foi capaz de barrar a força da ala feminina da SBMAC em sua missão E olha que as mulheres (especialmente, as negras) foram as principais vítimas dos impactos na produtividade durante o isolamento social.

A pandemia, todavia, rendeu uma maior conexão entre as mulheres através da internet. Para Marilaine Colnago, Coordenadora do Comitê, a força das redes sociais ajudou muito na disseminação das ideias da ala dentro da SBMAC.

“Apesar da sobrecarga de trabalho feminina ter aumentado muito durante a pandemia, ela trouxe uma aproximação on-line que proporcionou a interação das mulheres do Comitê independentemente da localização geográfica. É claro que os encontros presenciais são sempre ricos e proveitosos, mas não necessitar de deslocamento para os encontros acabou fazendo com que a interação entre as mulheres aumentasse nos encontros on-line, nos aproximando mais umas das outras. Outro ponto importante para mencionar, é o fato de que nossas redes sociais também começaram a se movimentar nesse período e hoje temos mais de 1.000 seguidores em nossa conta do Instagram, por exemplo”, opina.

INICIATIVAS & REPRESENTATIVIDADE

Em 2022, houve a realização de um edital de seleção para o treinamento oferecido pelo British Council no Brasil, intitulado “Mulheres em Tech – Lideranças Inclusivas”. O Comitê submeteu uma proposta para concorrer, que, logo depois, acabou contemplada.

Todas as mulheres da SBMAC puderam se candidatar para participar do treinamento, mesmo aquelas que não fizessem parte do Comitê. A atividade foi composta por 12 módulos, com temas como engajamento, representatividade feminina, soft skills, entre outras habilidades que ajudaram no aperfeiçoamento das pesquisadoras.

Outras melhorias que vieram através da ala feminina da SBMAC são referentes ao aperfeiçoamento do método de adesão à Sociedade. Antes de 2023, os formulários a serem preenchidos pelas pesquisadoras não reservavam lacunas para se especificar características, como gênero, etnia e parentalidade. Tal defasagem pôde ser corrigida, com dados mais precisos sobre questões de representatividade na Sociedade.

Em 2022, por exemplo, para fazer parte de um comitê temático, a associação à SBMAC deixou de ser obrigatória, o que viabilizou a participação de alunos e alunas de forma a aumentar, consequentemente, sua abrangência na comunidade.

No mesmo ano, a Sessão Técnica (ST) 14 do CNMAC passou a se chamar “Atividades extensionistas e profissionais em STEM e de pesquisa relacionadas a gênero”, de forma a receber trabalhos relacionados à questão de gênero e diversidade.

Além disso, o Comitê criou uma lista das mulheres participantes, contendo dados e sua respectiva área de atuação na matemática. Tal relação foi fundamental para a criação de parcerias e como modelo para externar a contribuição feminina do grupo no país.

A lista também pode ser acessada de acordo com a localização geográfica ao acessar o mapa disponível no site Mulheres SBMAC.

Além do incentivo ao Comitê de Mulheres, o próprio site da Sociedade reuniu mais iniciativas divulgadas nas redes sociais que representam as lutas e reflexões que vários grupos têm feito por todo o Brasil. Todas as iniciativas têm por objetivo garantir mais pluralidade e diversidade na Matemática.

Confira algumas:

2018

  • Criação da Comissão de Gênero e Diversidade da SBM e SBMAC;
  • Criação do Comitê de Mulheres da SBMAC.

2019

  • Realização do 1º CNMACquinho dentro do espaço do CNMAC;
  • Criação da “Matemática: Substantivo Feminino”, plataforma que divulga ações desenvolvidas ao redor do mundo para aumentar a participação feminina na área;
  • Criação do grupo “Matemáticas Negras”, dando visibilidade às formas de opressão presentes na comunidade de matemática.

2020

  • Criação do “Lógicas Brasileiras”, site de divulgação de projetos de pesquisa e ensino, história e memória relacionados a mulheres brasileiras que fazem ou fizeram lógica.

2021

2022

Para o futuro, o horizonte é promissor, porém, ao mesmo tempo, há muitas barreiras a serem ultrapassadas. O Comitê reforça o compromisso de promover mais ações que aumentem a representatividade das mulheres em todas as regiões do Brasil, incluindo o monitoramento de suas 130 integrantes para que continuem ativas na carreira.

Na visão de Evelise Freire, Vice-Coordenadora do Comitê das Mulheres da SBMAC, é de fundamental importância o grupo manter e expandir a rede de apoio criada e incentivar a entrada de mais mulheres na área. O machismo, querendo ou não, ainda prevalece em várias teorias dentro da área no Brasil, aponta a pesquisadora.

“É importante usar essa rede para incentivar a entrada de novas mulheres nas áreas de Exatas em geral, combatendo o equivocado senso comum de que as carreiras STEM são mais adequadas para homens. Apesar de equivocado e ultrapassado, este senso comum ainda paira no ambiente acadêmico e se reflete nos números de representatividade feminina. A longo prazo, esperamos que as mulheres se sintam cada vez mais empoderadas nas carreiras STEM, e que possam ocupar lugares de liderança administrativa e intelectual em todos os níveis da hierarquia acadêmica, dentro e fora da SBMAC”, conclui.

Há também o objetivo de romper as fronteiras e aumentar a interação com outras sociedades da América Latina. Não há limites para as mulheres brasileiras, tampouco para as da SBMAC.

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