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Paulo Mancera: carimbo milimétrico de qualidade da SBMAC

Paulista é referência na área de Biomatemática e Análise Numérica em uma trajetória exemplar desde o ensino médio

É inegável sua habilidade com números e datas exatas. Ao puxar da memória, lembra do ano, dia e mês detalhados de cada uma de suas experiências. Pode-se dizer que seria difícil imaginar outra carreira de sucesso para Paulo Mancera do que a ligada à matemática. 

Natural de Jaú, o pequeno Paulo foi passar sua infância a 350 km dali, na cidade de Pacaembu, região da Alta Paulista. Voltou à sua cidade natal anos depois para terminar o colegial e se apegou à matemática através do contato com professores da área de Ciências Exatas. Uma de suas inspirações no ensino médio, inclusive, traz uma particularidade na sociedade brasileira. 

“Foram dois professores cruciais que tive para fazer o curso de Matemática. O professor Ademir e o professor Lineu Prado, que é irmão de um dos grandes sociólogos do Brasil, o Bento Prado (de Almeida Ferraz Júnior)”, conta Mancera. 

FORMAÇÃO

Iniciou a graduação na UNESP de Rio Claro, porém por pouco tempo. Pensou melhor e prestou novamente o vestibular para ingressar, em 1981, na UFSCar, onde se formou com honras quatro anos depois. Na mesma São Carlos, Paulo completou seu mestrado em Ciências da Computação e Matemática Computacional na USP, em 1989. 

Sua história atravessou o caminho da Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada (SBMAC) ainda durante seu mestrado. Em 1987, Paulo foi contratado para trabalhar no câmpus de Botucatu da UNESP e foi ali onde conheceu o então coordenador regional da entidade, o professor Marcos Arenales. 

“Ele foi um dos conferencistas de um Encontro Regional de Matemática Aplicada e Computacional  em Botucatu. E foi muito importante esse contato, pois conheci outros pesquisadores, pessoas extremamente importantes que nos estimularam a fazer um doutorado fora do país”, recorda. 

O arsenal acadêmico de Paulo ficou ainda maior com o doutorado na Universidade de Strathclyde, na Escócia, em 1996, na área de Análise Numérica com ênfase em Equações de Navier-Stokes. Com maior bagagem, o matemático retornou ao Brasil e, logo, projetou a criação de um programa de Pós-Graduação em Botucatu. 

Para completar um dos seus sonhos, todavia, o paulista precisou fazer alterações significativas em seu planejamento. “Mudei meu foco de Análise Numérica para a área de Biomatemática, pois aqui, na UNESP de Botucatu, somente eram permitidos projetos para as áreas de Ciências da Saúde e Ciências Biológicas. A partir daí, então, desenvolvi pesquisas relacionadas à dinâmica populacional de crescimento moral e terapias”, cita. 

A alteração foi benéfica ainda mais para a carreira do pesquisador, porque possibilitou a publicação de uma edição das Notas de Matemática Aplicada envolvendo as áreas de câncer e de quimioterapia, práticas raras para a época. “Esse material, mesmo básico, fez bastante sucesso, pois acabou selecionado para fazer parte do Congresso de Matemática Aplicada em algumas ocasiões como um minicurso”, complementa Mancera.

EVOLUÇÃO DA SBMAC

Nos últimos anos, Paulo é membro permanente do conselho da entidade, cargo que viabilizou participações importantes em eventos como o ICIAM, em Pequim (China), além de reuniões presenciais em Valência (Espanha), Glasgow (Escócia) e na Filadélfia (EUA). E é notório que a SBMAC acompanhou a evolução no mesmo passo do desenrolar da carreira do paulista. 

Além do aumento do número de estudantes nos eventos e da melhor qualidade na revisão dos trabalhos enviados, a SBMAC também vem se preocupando com questões sociais cada vez mais necessárias na atualidade. Paulo reforça que a entidade mantém uma posição assertiva nos processos sociais dentro da democracia do país. 

“Os posicionamentos são muito claros da SBMAC, desde o ataque feito às instituições científicas e acadêmicas no último governo até os procedimentos de combate à Covid. A SBMAC tem dado uma resposta imediata em conjunto com outras sociedades científicas para o desenvolvimento do país. Porque, acima de tudo, nós somos um país pobre. E, sem educação, essa pobreza nunca terá fim”, defende Mancera.

“Hoje temos o Comitê das Mulheres e, ao mesmo tempo, notamos que essa luta vem ocorrendo em questão de gênero, de raça, em todas as sociedades científicas. E a SBMAC se posicionou e está atuando de forma muito de ponta”, completa o matemático, fazendo alusão à luta da entidade contra o machismo e o racismo em discussões mais frequentes nos eventos. 

FUTURO NO HORIZONTE

Com a mesma simplicidade com a qual encarou os desafios até aqui, Paulo também não foge da responsabilidade do que considera mais prioritário para a SBMAC a curto prazo. “Precisamos saber lidar com essa ‘geração pandemia’. Nesses três anos de ensino remoto, a qualidade da formação dos estudantes diminuiu muito e precisamos agir”, explica. 

Um outro objetivo é fazer com que o conhecimento alcance as populações menos favorecidas da sociedade com mais afinco, além de costurar laços com nossos vizinhos. “Uma questão sendo desenvolvida com grande sabedoria é a interface com outras sociedades da América Latina. Precisamos ser mais atuantes para seguir evoluindo como uma sociedade importante no meio acadêmico brasileiro”, completa o pesquisador, que chegou a ser Presidente da Sociedade Latinoamericana de Biomatemática de 2013 a 2015.  

De Jaú para o mundo graças à matemática. Se puxa da memória detalhes milimétricos de tudo que viveu com maestria, o reconhecimento traz a Paulo mais exatidão de até onde pode chegar na carreira acadêmica. “Eu me sinto muito feliz, muito orgulhoso e muito grato. Por participar de tantos eventos e reuniões de conselho da SBMAC, pude crescer muito. Toda minha formação científica e acadêmica, posso dizer com todas as letras, tem um carimbo SBMAC”, conclui.

Confira o 12º episódio da série Memória SBMAC:

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