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Sebastião Pereira Martins: o eterno sócio número 5 da SBMAC

Matemático paulista ouviu os ‘anseios’ de Odelar Leite Linhares durante o mestrado e participou da criação da Sociedade

Entre no site oficial da SBMAC e leia um pouco sobre a sua origem. Praticamente no rodapé da página, você vai encontrar, entre os membros da primeira Comissão Organizadora da Sociedade, o sócio número 5: Sebastião Pereira Martins, que já foi citado aqui por colegas entrevistados anteriormente ao longo desta série de Memórias. De fato, se percorrer os caminhos da Matemática e não ouvir falar neste nome, há alguma coisa errada.

Muito antes de pensar em se estabelecer na Matemática, Sebastião começava sua história na “agradável Tanabi”, como classifica, a 35km de São José do Rio Preto, na região noroeste do estado de São Paulo. Sua família, de origem humilde, se virava como podia para o sustento. O pai, ora oveiro, ora taxista, não demorou muito para colocar o filho para trabalhar em um cartório como estagiário. 

“Para você não ficar na rua”, lembra Sebastião sobre a justificativa do pai para a ocupação. Então, o jovem ficava meio período no cartório, enquanto frequentava a escola no período subsequente. Ao final do Ensino Médio, eis que veio o início do que viria a ser o foco de sua trajetória. 

O APEGO

Se tinha uma certa queda pela Engenharia Civil primeiramente, Sebastião viu o estágio no cartório reescrever sua rota. “No fim do 3º ano do Colegial, o Diário Oficial do Estado de São Paulo, que o cartório assinava, anunciava na manchete: ‘Criado o curso de Matemática na FAFI (hoje IBILCE), em São José do Rio Preto’. Daí, eu vim para Rio Preto, me disseram que o curso começaria em março do ano seguinte. Teria um cursinho intensivo de dois meses para o vestibular. Me inscrevi e acabei entrando”, narra Martins, lembrando do feito em março de 1968. 

Durante os primeiros anos de graduação em Rio Preto, Sebastião conheceu o amor da sua vida, Valdenice, que deixou Araraquara para seguir a academia também na antiga FAFI. Desde o primeiro encontro, os planos já se alinhavam, tanto pessoal quanto profissionalmente. 

Juntos, seguiram viagem ao Rio de Janeiro após a graduação para um curso intensivo de férias. Destino: o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), a referência nacional na área. A intenção, instintivamente, era conseguir o mestrado na capital fluminense, porém Sebastião estava fadado a voltar para perto de casa. 

MESTRADO COM A REFERÊNCIA

“No meio do curso de verão, um professor que me deu aula em Rio Preto visitou o nosso grupo e fez um convite: ‘Eu gostaria que vocês fossem ajudar no curso trabalhando como docente. E mais: sei que vocês pensavam em fazer mestrado no IMPA, mas já conversei com a USP de São Carlos e há a possibilidade de fazerem o mestrado lá’. E isso nos empolgou muito”, conta. 

Sebastião e seus colegas não pensaram duas vezes. Seguiram a aventura para São Carlos com um salário fixo e a certeza de um mestrado no currículo. Na fase de conhecer as linhas de pesquisa da universidade, ele conheceu ninguém menos que o “Professor Odelar Leite Linhares”, como o chama até hoje, que o inspirou para as áreas de Álgebra Linear Numérica e Equações Diferenciais. 

Logo, a linha do mestrado estava traçada com aquele que seria seu futuro companheiro na Comissão Organizadora da SBMAC poucos anos mais tarde. 

EMBRIÃO DA SBMAC

O doutorado na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro foi outra adição à bem-sucedida carreira. Porém, foi durante o mestrado que o elo entre Sebastião e a SBMAC se fechou para sempre. 

“O Professor Odelar falava com a gente sobre a necessidade de dar um pouco mais de espaço a nível de fomento e pesquisa junto aos órgãos que não fosse somente a Sociedade Brasileira de Matemática (SBM). Ele achava que tinha espaço para uma outra Sociedade”, narra. 

Em seguida, o Professor Odelar fez um levantamento de pesquisadores do Brasil em Matemática Aplicada e Computacional e apresentou o relatório em congresso da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Meses depois, após esforços da classe, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), enfim, lançou o 1º Simpósio Nacional de Cálculo Numérico, no fim de 1978.

“Na Assembleia, foi aprovada a criação da SBMAC e, ao mesmo tempo, uma comissão por pessoas próximas a São Carlos, para facilitar a parte operacional, para a elaboração de um estatuto. Eu participei da criação da SBMAC sendo o sócio número 5 e fui indicado como um dos quatro membros para trabalhar no anteprojeto. No ano seguinte, o Professor Odelar organizou o 2º Simpósio, em São Carlos, e foi aprovada a primeira diretoria, dirigida por ele”, detalha Sebastião. 

A contribuição do paulista de Tanabi perdurou por mais de duas décadas de forma ativa na SBMAC, entre organizações de eventos regionais, CNMACs e atividades de cargos específicos, como primeiro secretário na gestão do então presidente Ricardo Kubrusly. O marco final de sua trajetória na Sociedade ocorreu em 2002, quando se aposentou. 

EVOLUÇÃO

Mas se engana quem acha que o sabido Sebastião está desatualizado. Que nada! Se está fora da ativa na academia, mantém-se antenado por meio da tecnologia e vê o quanto a ideia do “Professor Odelar”, embrionária ainda na época do mestrado, foi certeira para os rumos atuais da área no Brasil. 

“A criação da SBMAC abriu espaço para investimento na CAPES e no CNPq, em Brasília, e isso viabilizou o surgimento de novos trabalhos, novos pesquisadores e a Sociedade foi crescendo. Se você olhar hoje, os presidentes da SBMAC são pessoas de várias regiões do Brasil. Não ficou uma coisa focada somente em uma região do país e também contribuiu para pessoas mais jovens entrarem e fazerem parte do processo”, corrobora. 

Por tamanha contribuição, é justo afirmar que Sebastião se considera com o sentimento de dever cumprido. A propósito, o próprio paulista enfatiza ao se lembrar de apoiar os alunos e as gerações mais jovens a se engajarem com os propósitos da SBMAC. 

“Isso tudo me dá uma satisfação, uma sensação de que a Matemática tem um pouco do meu sangue, do meu DNA. Eu não sou prepotente de falar que fui eu quem fiz, mas eu fiz parte da história. E tudo aquilo que nós fizemos foi plantar uma semente. Cabe aos novos profissionais continuarem a colheita para que a árvore de hoje vire uma floresta. É isso que vai deixar a SBMAC ainda mais forte”, conclui o eterno sócio número 5 da SBMAC.

Confira o 15º episódio da série Memória SBMAC:

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