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Liliane Basso Barichello: um toque de integração na SBMAC

Membra ativa da Sociedade há quase 40 anos, gaúcha trilhou sua carreira acadêmica incorporando conhecimentos de áreas similares em Ciências Exatas

Pode-se dizer que o apreço pelo ensino tocou a alma de Liliane Basso Barichello muito antes do que ela própria imaginava. “Veio do coração”, como ela descreve, a aptidão pela vocação educacional. 

Do coração, como Santa Maria, no verdadeiro interior do Rio Grande do Sul, que acolheu a pequena ‘aprendiz de professora’ desde seu nascimento. A gauchinha já brincava de dar aula para os amiguinhos e, por isso, não demorou muito para caprichar no momento de fazer sua escolha profissional.

O QUE QUER FAZER? MATEMÁTICA!

Só que a Matemática ainda estava entre os vários caminhos possíveis para se percorrer. Foi somente no segundo ano do Ensino Médio que Liliane se encontrou. “Tive aula com o Professor Nilson e foi ele que me convenceu a fazer Matemática. Realmente fiquei fascinada. Pensei em fazer outras coisas, como Psicologia ou Psiquiatria, mas não me sentia à vontade para estudar os cursos necessários. E eu sempre tive boas notas, então naturalmente vinha o questionamento: ‘Bah, por que você não faz engenharia?’ É sempre uma decisão difícil”, lembra. 

A graduação ocorreu na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), perto do quintal de casa, e Liliane era uma das alunas mais novas da sala, com 17 anos. Concluiu o curso de Licenciatura aos 20, porém com ressalvas em sua lista de prioridades. “No decorrer da graduação, eu fui me certificando que a parte pedagógica não era mais do meu interesse”, comenta. 

No fim da graduação, a disciplina de Análise veio a pavimentar ainda mais um caminho brilhante na vida acadêmica da então jovem gaúcha. “A Professora Vanilde Bisognin, que dava aula de Análise, teve um papel muito importante, pois ela me despertou para a ideia de tentar um mestrado na área”, conta. 

MESTRADO

As boas notas e a indicação de Vanilde fizeram Liliane se aventurar nos Cursos de Verão de pós-graduação. Com isso, a pesquisadora se mudaria para a Cidade Maravilhosa, onde receberia bolsa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“Foi um desafio muito grande, não só de uma menina que sai do interior, mas da formação que tive em Licenciatura”, reforça Liliane, que depois optou por embarcar em um mestrado recém-criado em Porto Alegre. A distância mais acessível da família e a oportunidade de crescer na carreira acadêmica a levaram para a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 

Foi então que um convite para ser docente em Santa Maria a fez iniciar nova aventura que a ajudaria em experiência e também no quesito financeiro. 

“Eu me tornei professora universitária aos 23 anos e ainda não havia concluído o mestrado. Estava apreensiva em arrumar um emprego e, então, fui aprovada em um concurso. Fui chamada para dar aula na UFSM. Lembro que na primeira aula que eu dei na universidade, passei no corredor com os livros nas mãos, mas os alunos permaneceram lá. Eles não se deram conta de que eu era a professora. Isso é bom, mas já não acontece mais”, brinca Liliane.

A paixão pela Matemática Aplicada aguçou Liliane durante o mestrado na UFRGS, mas ela desejava integrar seu conhecimento com fundamentos de áreas similares, o que conduziria mais tarde sua linha de pesquisa na academia. “Veio essa minha vontade de trabalhar com Matemática, mas não só de saber onde ela é aplicada, mas fazer a interação com outras áreas. É o que queria encontrar no Doutorado”, conta. 

DOUTORADO: INTEGRANDO ÁREAS

Liliane optou por fazer seu Doutorado em Engenharia Mecânica em Porto Alegre. Novamente, enfrentou dificuldades desde o primeiro dia de aula. Percalços que ela admite ter sido o combustível para seguir adiante com seus ideais. 

“Lembro que fui perguntar uma coisa para um professor no primeiro dia de aula. E ele me fala: ‘Tu veio da Matemática? Ih, esquece! Não vai ter como. Pode desistir’. Certamente não foi uma boa recepção, mas essa é uma das dificuldades que segue ao longo do caminho. A questão da interação com outras áreas, muitas vezes, não é fácil. A colocação profissional posteriormente é um desafio”, salienta. 

Além de persistir e completar o doutorado com honras, Liliane conheceu seu marido no período e decidiu se mudar definitivamente para a capital Porto Alegre, onde prestou novo concurso para a UFRGS. A aprovação veio e ela se tornou docente titular do Departamento de Matemática Pura e Aplicada da instituição. 

ELO COM A SBMAC

Sua identificação com a SBMAC nasceu da relação ainda no mestrado com o Professor Julio Cesar Ruiz Claeyssen, seu orientador e que mais tarde se tornaria presidente da Sociedade. E uma de suas primeiras experiências efetivas na entidade, foi fazer parte da organização do Congresso Nacional de Matemática Aplicada e Computacional (CNMAC) de 1987.

“Como aluna dele, comecei a participar de reuniões regionais e posso dizer que fiz a entrada na SBMAC com o pé direito. Em 1987, fui convidada para participar do Comitê Organizador do CNMAC em Gramado. Do meu ponto de vista, foi o evento mais grandioso da SBMAC. Mais de 1.000 pessoas e isso me aproximou de muitas pessoas importantes da Sociedade com quem me encontro até hoje”, conta Liliane, que era encarregada da realização dos eventos sociais do CNMAC na época. 

Hoje, a matemática é membra ativa da Sociedade há quase 40 anos e contribuiu como parte da Diretoria em diferentes oportunidades. Liliane chegou a ser Segunda Vice-Presidente da SBMAC no biênio 2014-2015, durante mandato de Antônio José da Silva Neto. No ano passado, a gaúcha foi eleita como officer-at-large do  Conselho Internacional para Matemática Industrial e Aplicada (ICIAM) e ficará no cargo até 2027 com o objetivo de congregar objetivos em comum entre sociedades Latinoamericanas de Matemática Aplicada. 

Em quatro décadas, Liliane admite que tem orgulho de seu legado na SBMAC, tanto em suas atribuições quanto na responsabilidade de levar a Matemática Aplicada para milhares de estudantes no Brasil. “Sempre busquei o desenvolvimento da área, briguei por esse reconhecimento para facilitar a interação da Matemática com outras áreas. Eu me sinto muito orgulhosa de ter escolhido ser professora e, principalmente, de ter descoberto a pesquisa. Posso dizer que ainda estou motivada pelos meus objetivos iniciais e estou repleta de problemas na cabeça que quero resolver”, reforça.

Para o futuro, enxerga que a maior participação feminina é mais uma de suas conquistas pelo caminho e deve permear a trajetória de milhares de meninas que sonham em ser bem-sucedidas em um ambiente ainda majoritariamente masculino. 

“É bacana vermos que hoje há uma atenção maior para as mulheres. Temos um comitê específico na SBMAC  e é uma realidade que me motiva muito. Eu desejo que, nos próximos anos, encontre muitas mulheres pesquisando sobre Matemática Aplicada com trajetórias que as qualifiquem para preencher ainda mais este espaço na área”, conclui.

Confira o 17º episódio da série Memória SBMAC:

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