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Vilmar Trevisan: a Matemática como razão única na Sociedade

Gaúcho trilhou sua bem-sucedida trajetória acadêmica nas terras do Rio Grande do Sul e completa mais de 30 anos de contribuições na SBMAC

O município gaúcho de Engenho Velho, na região do Alto Uruguai, é a segunda cidade do país com menor quantidade de domicílios, segundo dados do Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São apenas 498 domicílios registrados. Em um deles, nasceu Vilmar, oitavo de um total de nove filhos da família Trevisan. 

Seus pais tinham descendência de italianos (lado paterno) e ucranianos (materno) e, por isso, Vilmar sempre foi estimulado a dar a devida importância para a educação desde a infância.

“Como a diferença de idade para meus irmãos é muito grande, comecei a ir para a escola antes da idade escolar. Eu acompanhava minha irmã mais velha, que era professora, numa escola rural. Todas as turmas estavam juntas, até a 5ª série. Eu tinha uns cinco anos e, quando percebi, estava ajudando as pessoas, aprendendo a ler e fazer contas desde cedo”, recorda. 

ENGENHARIA OU MATEMÁTICA?

O contato com a vida na roça foi frequente na vida de Vilmar até os 14 anos, quando decidiu se aventurar em Porto Alegre seguindo os passos do irmão mais velho. Durante o Ensino Médio, o gaúcho se inscreveu para o Curso Técnico em Eletrotécnica e tudo indicava que Engenharia seria a sua escolha para o vestibular. 

Para fazer a inscrição, todavia, era necessário preencher também o campo de segunda opção. E foi aí que a Matemática surgiu para, talvez, alterar a rota. Ele ainda veio a fazer dois anos e meio de Engenharia Elétrica – porém, no meio do caminho, percebeu que sua maior aptidão poderia ser outra. 

“Eu estava fazendo circuito e parece que a coisa mais importante era saber o método para resolver equações diferenciais. O resultado é que eu voltei para Matemática e me formei em Bacharel”, segue o gaúcho. 

ESCOLHA CERTA

Vilmar completou o Bacharelado em Matemática em 1983 pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Durante a conclusão da graduação, ele se convenceu – graças à influência dos professores Júlio César Claeyssen e Mark Thompson – de que sua vocação tinha tudo a ver com Matemática Aplicada, curiosamente após vivenciar um curso essencialmente voltado para a Matemática Tradicional.

INCENTIVO

Membro da Diretoria da SBMAC na época, Claeyssen incentivou Vilmar, que foi seu orientando durante o Mestrado, a participar de um congresso regional (atual ERMAC) da entidade em 1986. Ali, foi o primeiro contato do Mestre em Matemática com a Sociedade. 

“O Congresso foi em Santa Maria e foi a primeira vez que apresentei um trabalho em um evento maior. Na época, apresentei o trabalho ‘Aspectos Algébricos e Computacionais da Transformada Rápida de Fourier’, que foi exatamente a minha dissertação de Mestrado”, recorda. 

No ano seguinte, Vilmar veio participar de um evento ‘épico’, o qual relata até hoje: o famoso Congresso Nacional de Matemática Aplicada e Computacional (CNMAC), em Gramado. O matemático teve o prazer de registrar sua tese de dissertação como a primeira publicação na solenidade. “Essa foi a minha primeira grande experiência junto à SBMAC e com a Ciência em um modo geral”, completa.

Em Gramado, Vilmar também veio a solidificar sua ideia de Doutorado fora do Brasil. Com o plano de estudar Matemática Discreta, o gaúcho ouviu o bom conselho da professora Yoshiko Wakabayashi, da Universidade de São Paulo (USP), que trilhou os próximos passos da trajetória de Trevisan. “Ela me disse: ‘A Matemática Combinatória aqui na USP ainda é incipiente, não contém cursos regulares. Por que você não vai para o exterior?’ E foi o que fiz”, detalha. 

MERGULHO NA SBMAC

A partir daí, Vilmar passou quatro anos nos Estados Unidos para completar, com méritos, o Doutorado em Matemática Aplicada pela célebre Universidade de Kent, no estado de Ohio. No retorno ao Brasil, em 1992, novamente a SBMAC bateu à sua porta e o recebeu no CNMAC de São Carlos. 

“Fui convidado para ministrar um minicurso no CNMAC e apresentei uma palestra voltada à minha tese de Doutorado, que era relacionada à Fatoração de Polinômios”, complementa. E por mais que o evento de cinco anos antes, em Gramado, tenha ficado em sua memória, São Carlos não fica muito distante. 

Durante seu curso, Vilmar teve o prazer de interagir com uma das maiores referências da SBMAC: o professor Odelar Leite Linhares, exatamente um dos sócios fundadores da instituição. “Ele fez uma pergunta no fim da aula e eu expliquei com toda a minha paciência, mas sem saber quem era aquele ‘aluno’. Depois, me falaram que aquele era o professor Odelar. Então, isso vai ficar para sempre na minha mente. Eu pude, de fato, ensinar alguma coisa ao professor Odelar”, brinca.

LEGADO

Quando olha para trás e revê a sua trajetória, Vilmar, embora seja sócio da SBMAC, admite que o período fora do Brasil o impediu de contribuir de forma mais efetiva. “Eu devo muito à SBMAC, porque foi ela que me deu a oportunidade de trilhar os primeiros passos na Ciência e me deu um bocado de experiências”, opina. 

Associado da Sociedade há mais de 30 anos, Vilmar reconhece a evolução da entidade ao longo das décadas e confia que as novas gerações seguirão os passos para elevar a SBMAC a outros patamares dentro da área especializada mundial. 

“Hoje, a SBMAC e a SBM são parceiras com o mesmo nível de decisão de influência nos órgãos financiadores e estatais que determinam a Matemática. Essas novas gerações já têm a maturidade que a matemática brasileira adquiriu, têm um background melhor que o nosso, uma sociedade mais bem estruturada, por isso tem um futuro promissor pela frente”, avalia. 

ARREPENDIMENTO? QUE NADA!

Passados quase 40 anos do início da graduação, será que Vilmar acertou na troca de Engenharia pela Matemática? O gaúcho não tem dúvidas e reconhece que a profissão conta com um detalhe de que nenhuma outra usufrui e isso a torna ainda mais especial.

“Fazer matemática é muito divertido. Eu falo que nenhuma outra profissão reúne isso, que é a capacidade de você determinar o que quer estudar. A Matemática te permite isso. É muito difícil encontrar uma profissão em que você conta com essa liberdade. Essa é uma vantagem de ser um cientista na área de Matemática. E eu tenho muito prazer no que faço, eu sou um matemático muito feliz”, conclui.

Confira o 19º episódio da série Memória SBMAC:

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