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Celebrando as Mulheres na Matemática em tempos de pandemia

Texto preparado pela Comissão de Gênero SBM/SBMAC por motivo da celebração do 12 de maio!

Em julho de 2018, as participantes do World Meeting for Women in Mathematics – (WM)²  escolheram o dia 12 de maio para celebrar as realizações das mulheres na área de matemática (CWM NEWSLETTER). A data foi escolhida para homenagear a matemática iraniana Maryam Mirzakhani, a primeira mulher ganhadora da Medalha Fields em 2014 e falecida precocemente em 2017 (may12). Faz parte da iniciativa incentivar a criação de ambientes de trabalho acolhedores e inclusivos para todas as pessoas.

E por que chamar a atenção para essa iniciativa em tempos de pandemia? Nossos esforços não deveriam estar concentrados em contribuir para o controle da disseminação e para o tratamento da Covid-19? Fato é que, em tempos tão difíceis, é ainda mais premente a proposição de ações que diminuam o desequilíbrio entre os gêneros na sociedade em geral e em particular no trabalho na área de matemática. Alguns efeitos da pandemia no aumento dessa assimetria já estão sendo observados. Em uma análise preliminar, publicada no dia 21 de abril de 2020 em Early journal submission data suggest COVID-19 is tanking women’s research productivity, editores de revistas científicas detectaram que mulheres estão submetendo menos artigos científicos desde o início da pandemia. Também são preocupantes os dados divulgados pela ONU (p. 25) em 5 de março de 2020 que apontam para esse desequilíbrio: cerca de 90% da população mundial masculina e 85% da feminina têm algum tipo de preconceito em relação a mulheres. Especificamente no Brasil, os números não são melhores e estão piorando.

O desequilíbrio entre gêneros também está presente na área de matemática. Conforme apresentado em O “Dilema Tostines” das Mulheres na Matemática, enquanto o percentual de mulheres entre os egressos de 2014 nos cursos de graduação foi de 42%,  nos cursos de mestrado foi em torno de 27% e, entre os de doutorado, de 24%. Diversos são os fatores elencados para justificar tal desequilíbrio, e muito ainda tem que ser estudado e explicado.

A maternidade desempenha um papel importante na desigualdade de gênero na ciência (The changing career trajectories of new parents in STEM). E em tempos de isolamento social, com creches e escolas fechadas e trabalhando em casa, os cientistas que cuidam pagarão o preço mais alto. Embora os homens também possam enfrentar impactos do confinamento, são as mulheres que pagarão a maior parte dessa conta, pois elas predominam no   desempenho da maior parte dos cuidados com os filhos (Parent in Science: The Impact of Parenthood on the Scientific Career in Brazil – IEEE Conference Publication). Para aquelas que ainda estão lutando para se manter produtivas, esses meses de maior acúmulo de tarefas podem aumentar a distância de seus pares. Ainda piores podem ser os efeitos do distanciamento social para os alunos de pós-graduação que têm filhos, pois nesse grupo somam-se às dificuldades de trabalhar em casa e cuidar das crianças, a vulnerabilidade financeira e a pressão por cumprimento de prazos. Em pesquisa realizada pelo grupo Parent in Science (Parent in Science | Maternidade e Ciência) ficou claro que os efeitos do distanciamento social por causa da pandemia têm pesos diferentes entre as alunas e os alunos, e, mais acentuadamente, entre aqueles que assumem as responsabilidades de cuidar dos filhos (https://www.facebook.com/parentinscience). Caso nenhuma medida seja tomada, o cenário atual contribuirá para a ampliação da desigualdade de gênero dentro da ciência.  Apesar de os efeitos da pandemia para os alunos de pós-graduação já terem sido levados em consideração na recente e importante portaria da CAPES (nº 55, 29/04/2020) sobre a prorrogação excepcional dos prazos de vigência de bolsas de mestrado e doutorado, ela ainda não contribui para a diminuição da desigualdade de gênero apresentada acima.

Embora celebrar as realizações das mulheres na Matemática seja algo de extrema importância, é fundamental resistirmos ao impulso de homogeneizar quem são essas mulheres, de onde elas vêm e quais foram suas experiências no mundo, como sujeitos racializados e pertencentes a alguma classe social. Enfatizar a multiplicidade de mulheres na matemática é particularmente importante se queremos celebrar genuinamente as muitas mulheres negras que investiram (e investem) suas vidas no avanço da matemática. De acordo com dados do IBGE de 2016, as mulheres negras são as que mais se dedicam aos cuidados de pessoas e/ou aos afazeres domésticos, com uma média de 18,6 horas semanais, seguidas pelas mulheres brancas com 17,7 horas semanais; depois, praticamente empatados, vêm os homens negros com 10,6 horas semanais e os homens brancos com 10,4 horas semanais (Estatísticas de Gênero). Isso sugere, por exemplo, que a variável raça, dentro do gênero feminino, terá impactos significativos no trabalho remoto em tempos de pandemia. Portanto, na hora de pensarmos na mitigação dos efeitos da pandemia sobre a desigualdade de gênero dentro da ciência, precisamos dar um enfoque especial para a questão racial.

Dados sobre gênero e raça em matemática no Brasil (compilados pela doutoranda em Educação Matemática Priscila Pereira, da University of Illinois em Chicago nos EUA)  revelam que as mulheres negras estão sub-representadas nos programas de graduação e de pós-graduação em matemática. Mais especificamente para a graduação, de acordo com dados apresentados no ENADE (INEP & MEC, 2018), as mulheres negras representavam 24,5% e 10,5% dos concluintes em Matemática que cursaram licenciatura e bacharelado, respectivamente. Na pós-graduação, os dados da CAPES mostram que, em 2017, as mulheres negras representavam apenas 2,46% dos estudantes e estavam predominantemente concentradas nos mestrados profissional e acadêmico, com cerca de 88% delas em uma das duas modalidades.

Embora sejam necessárias mais pesquisas para investigar a sub-representação e as experiências das mulheres negras em Matemática no Brasil, um número crescente de estudos e esforços organizacionais destaca as influências de estruturas sociopolíticas mais amplas na entrada, permanência e sucesso das mulheres negras no ensino superior e na Matemática em particular (Potência N). Talvez parte de nossa celebração neste dia 12 de maio possa ser nos comprometermos enquanto comunidade acadêmica com o avanço das mulheres negras na Matemática, mesmo e especialmente quando isso significa reinventar os espaços matemáticos e a nós mesmos.

Lembramos ainda que a violência contra mulheres no ambiente acadêmico também é motivo de exclusão. O relatório do projeto Gender Gap in Science – A Global Approach to the Gender Gap in Mathematical, Computing, and Natural Sciences: How to Measure It, How to Reduce It?, de 2019, indica que, na Matemática Aplicada, uma mulher está cerca de 9 vezes mais sujeita a sofrer assédio sexual no ambiente de trabalho ou estudo do que um homem, enquanto que esse número salta para cerca de 17 vezes no caso da Matemática Pura. Essa proporção é compatível com o resultado da pesquisa Violência contra a mulher no ambiente universitário, realizada com estudantes de universidades brasileiras pelo Data Popular/Instituto Avon em 2015, a qual concluiu que 26% dos homens reconhecem já ter cometido alguma forma de assédio sexual. Apesar desse quadro, mulheres marcam presença na ciência, na política, na economia e na saúde, nem sempre com o devido reconhecimento. Para salientar essas ações, entrevistamos Cibele Maria Russo Novelli (USP), Cláudia Codeço (Fiocruz), Gabriela Cybis (UFRGS), Marcia Caldas de Castro (Harvard University), Maristela Oliveira dos Santos (USP),  Sandra Eliza Fontes de Avila (Unicamp) e Suzi Alves Camey (UFRGS): mulheres que têm atuado em diversas frentes de enfrentamento à Covid-19 ou contribuído em temas associados. A todas elas foram feitas as seguintes perguntas, cujas respostas encontram-se nas próximas páginas.

1. Sobre você. Fale um pouco sobre você, onde trabalha, o que pesquisa, e sobre o seu projeto relacionado à pandemia da Covid-19.

2. O desafio da pesquisa interdisciplinar. Quais são os principais desafios e dificuldades na realização desse projeto?

3. A mulher e a profissão. Quais desafios/dificuldades você, como mulher cientista, encontra em tempos de pandemia?

Esperamos que desfrutem destas entrevistas e que usemos o dia 12 de maio para celebrar as contribuições das mulheres à Ciência e, também, para refletir sobre formas de criar uma atmosfera de trabalho e estudo mais amigável para tod@s!

Comissão de Gênero

SBM/SBMAC

com a colaboração de Priscila Pereira – University of Illinois, Chicago, EUA

Acesse as entrevistas AQUI!

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